A dimensão econômica dos ODS

No dia 5 de junho de 2024, foi realizado o quarto encontro do projeto ambiental Diálogos do Pontal – Agenda para o Desenvolvimento Sustentável, no qual especialistas discutiram os principais desafios da região relacionados com os ODS direcionados a temas econômicos – ODS 8 (Emprego Digno e Crescimento Econômico), ODS 9 (Indústria, Inovação e Infraestrutura), ODS 10 (Redução das Desigualdades), ODS 12 (Consumo e Produção Responsáveis). Assim encerrou-se o ciclo de debates sobre o posicionamento regional quanto aos ODS e possíveis soluções e ações efetivas para implementá-los.

O debate foi aberto por Vânia Cristina da Silva, presidente da BPWPP, associação constituída há 29 anos, que nasceu na Alemanha, com sede no Brasil em Brasília. A entidade internacional está em nova fase, após uma reestruturação em nível nacional, e desenvolve pelo menos três projetos: Março é Mulher, Doando Vidas, e Trabalho Igual, Salário Igual, todos voltados para o fortalecimento da presença da mulher, tanto no meio social como no econômico.

Ana Paula Setti, secretária de Desenvolvimento Econômico de Presidente Prudente, sabe como é importante a colaboração do terceiro setor, organizações sociais, ambientais, entidades como o Sebrae, que circulam junto à iniciativa privada e também ao poder público.

Como exemplo, há que se ressaltar que muitos que vão até o Banco do Povo, para solicitar um empréstimo ou um financiamento, contam com o programa Emprega Rápido do Sebrae. A instituição também trabalha com o Fundo de Aval para as Micro e Pequenas Empresas (Fampe), que contribui para os pequenos negócios por meio de bancos oficiais ou bancos que atuam juntamente com o Fampe. O Banco do Povo oferta até o valor máximo de R$ 20 mil, tanto para pessoa física, quanto jurídica, com uma taxa de 0,38%, bastante inferior à do mercado financeiro.

“Não adianta um município estar desenvolvido se a região toda é dependente dele. Uma situação que vemos muito em Presidente Prudente, por exemplo, diz respeito à saúde, porque a região é muito dependente dos serviços de saúde da cidade. Aqui, na prefeitura de Prudente, trabalhamos com os ODS. A Secretaria de Desenvolvimento preocupa-se muito com o trabalho decente, uma das metas do ODS 8”, destacou a secretária.

Na opinião de Dal Marcondes, jornalista da Envolverde, os trabalhos que estão sendo realizados impressionam, assim como o grau de integração existente entre todos os entes e todas as organizações presentes nesse diálogo.

“Esse trabalho em rede é fundamental para construir vetores de desenvolvimento. Essa organização de pessoas que atuam em prol do coletivo e da comunidade é uma coisa que tem tudo a ver com o desenvolvimento e com a estrutura dos 17 ODS. Embora a gente possa tratar individualmente cada um deles, eles formam um todo que dá uma visão do processo de desenvolvimento”, observou o jornalista.

Quando questionada sobre a capacitação das pessoas para o mercado de trabalho, Ana Paula Settidisse que a maior dificuldade é o fato de não ser definida a vocação do município. Há uma reclamação frequente de indústrias e empresas sobre a falta de profissionais qualificados para seus quadros, e também há falta de interesse da mão de obra em se qualificar. “Eu penso que a identificação e a qualificação da vocação dos municípios e da região são muito importantes”, opinou.

“Outro ponto é não investir apenas em uma vocação, mas talvez não fosse a hora de investir e melhorar uma outra vocação. Então, isso é muito sério. A Cocal, ou a Tarabai, elas chegam e fazem um trabalho, e eu, sendo do Procon estadual, visito muitos municípios pequenos para fiscalizar e percebo que as cidades onde há usina sobrevivem”, observou a secretária.

Entre os aspectos econômicos apontados por Ana Paula Setti, também está o risco para o município de viver da usina da Cocal e não pensar em trabalhar essa acomodação, não pensar em trabalhar uma outra vocação, para fazer com que aquelas pessoas que hoje ganham seu dinheiro com a usina possam investir na própria cidade. Para que, se um dia a usina deixar de existir na cidade, a cidade não morra, não vire fantasma.

Para Vânia Cristina da Silva, essa questão de ter uma segunda profissionalização, uma segunda experiência, é extremamente importante. Ela teve a oportunidade de morar em Dracena, Tupi Paulista e Osvaldo Cruz, e viu usinas fecharem.

“Eu via os alunos e o desespero deles, porque eu fui professora universitária por 18 anos. O desalento deles de não ter para onde correr, porque a formação deles era aquela e eles só sabiam fazer aquilo. Portanto, é uma coisa bastante preocupante e é uma questão cultural. Nós precisamos, na fase da educação, tratar isso de uma forma alternativa. Eu acredito que cabe às escolas trabalharem de um modo diferente com as nossas crianças, para que elas se tornem jovens e adultos mais promissores”, apontou a presidente da BPWPP.

Para Dal Marcondes, fala-se muito de planejamento, mas dificilmente se consegue planejar um cenário de desenvolvimento. E isso é extremamente necessário se o foco é atingir metas de desenvolvimento, de redução das desigualdades, de geração de trabalho e renda, porque isso não acontece espontaneamente. É por isso que existem organizações como o Sebrae, por exemplo, porque tem coisas que precisam de um incentivo vetorial, um direcionamento que aponte uma determinada direção.

“Como repórter, junto com o Reinaldo, nós viajamos não só pelo Brasil, mas por diversos países, e a gente vê como as cidades valorizam os seus territórios, as suas melhores capacidades. O Brasil é um país muito novo e muitas das cidades também são muito jovens, têm menos de cem anos, o que é muito pouco. Você vê algumas cidades europeias que têm quase mil anos. Barcelona, por exemplo, tem 1,4 mil anos”, salientou o jornalista.

Dal Marcondes entende que o empreendedorismo como iniciativa individual tem limites e não vai resolver todos os problemas. Quando acontece de se ter um bom negócio, que consegue gerar emprego e renda, é maravilhoso. Entretanto, quando falamos sobre mais de 30 cidades que precisam de um processo de desenvolvimento, é preciso haver união, cooperativismo e estudos para o desenvolvimento.

As observações do jornalista continuam.

As pessoas moram em cidades que são maravilhosas e têm uma natureza exuberante, um enorme potencial para atrair, com uma culinária fantástica. O Pontal, por exemplo, é das águas… O que tem de rios, de represas e coisas no gênero, poderia transformar essa região num paraíso de esportes aquáticos, de atividades relacionadas a esse manancial, mas isso precisa de planejamento, de união e de estudos.

Atrair para o Pontal as pessoas da cidade de São Paulo, ou de Campinas, de outras cidades que têm uma população com renda e capacidade de fazer turismo, é bastante factível. Até de outros estados. A região está próxima de cidades do Paraná, de Goiás, mas isso depende basicamente do entendimento de que deve haver metas.

“Nós temos que olhar para os ODS e dizer: ‘Olha, nós precisamos atingir metas. Como fazer para atingir essas metas?’. Daí entra a criatividade e a capacidade de planejamento das pessoas, dos gestores, tanto públicos como empresariais, e de organizações sociais locais, porque é exatamente para isso que se tem uma estrutura de gestão pública, para que ela nos diga como é que vamos resolver determinados problemas, como é que podemos aglutinar forças e recursos para resolver determinados desafios da nossa região e da nossa cidade”, enfatizou Dal Marcondes.

E isso é algo com que Ana Paula Setti concordou e endossou. “A gente começa com um sonho, depois a gente tem as frustrações, daí a gente começa a trabalhar as frustrações e começa a entender por onde realmente se pode ir para que funcione, pelo menos uma parte. Eu acredito que a UEPP está nessa direção. Nós temos o Conselho do Turismo e Cultura, que também está apresentando uma rota turística, um trabalho fantástico, que amadureceu muito”, destacou.

Houve um amadurecimento muito grande porque, há poucos anos, muitas dessas entidades mal se conversavam, sendo que todas convergem nos seus objetivos, avaliou Marcos Eduardo Nomura, vice-presidente da UEPP. Hoje o que existe é uma reunião, um grupo da sociedade civil procurando soluções que são de interesse de todos. “Portanto, considero que essas conquistas se devem muito a essas maravilhosas parcerias que todos nós temos”, concluiu.

“Acredito muito numa governança corporativa, governança essa da união do poder público com a sociedade civil organizada, buscando soluções para os problemas locais e regionais, respeitando, obviamente, as nossas vocações, limitações e as nossas potencialidades. Eu sou bastante otimista e o Pontal do Paranapanema é a última fronteira agrícola. Acredito que nós temos potencial no agronegócio, e também no turismo. O Sebrae investiu no programa West Rios durante um longo período, e conseguimos com esse projeto que seis municípios se tornassem estâncias turísticas. Lamentavelmente, alguns deles, por diversas razões, realmente estão deixando a desejar, mas espero que se conscientizem da importância do turismo para as suas economias”, observou José Carlos Cavalcante, gerente regional do Sebrae de Presidente Prudente.

Assista ai vídeo completo do evento: